“As crianças de hoje estão expostas na alma, exigidas demais intelectualmente e super
protegidas fisicamente”. Ouvi essa frase da educadora Waldorf Luiza
Lameirão em uma palestra e não me saiu da cabeça o que ela disse. De fato.
Vamos por partes:
Problema 1 – “As crianças estão expostas em
sua alma”: Por conta da solidão, de muitas vezes estarmos sozinhos com eles ou
nos sentirmos assim na cidade grande, as
crianças acabam servindo de confidentes dos adultos. Acessam histórias
sobre nossos relacionamentos, finanças ou sobre o mundo cão que não conseguem
digerir ou entender como solucionar. Vêem
programas de TV inadequados e que são incapazes de compreender. E com isso ficam estressadas, ansiosas,
tristes, doentes.
Solução: Essa é fácil. Tá triste? Liga pra
amiga, pra mãe, vai pro parque andar na grama. Mas tome cuidado para não usar seu filho como apoio. Durante a infância, é
ele quem precisa de você. Aliás, uma maneira de se alegrar é sair com ele pra
brincar e esquecer seus problemas ao se envolver na alegria que naturalmente as
crianças têm.
Problema 2 – “As crianças são exigidas demais
intelectualmente”: Não tem nenhum pedagogo, psicólogo ou qualquer ser humano de
bom senso hoje que não concorde que as
crianças estão aprendendo a viver como adultas cedo demais, indo pra escola
cedo demais, aprendendo inglês, mandarim e alemão cedo demais. Enquanto ainda
deveriam estar envolvidas apenas em amor, em um lar, em fantasia e
brincadeiras, são obrigadas a sentar em uma sala de aula e aprender qual é a
raiz quadrada de 9. Até o governo obriga a isso. Outro dia ouvi uma professora
de escola pública morrendo de dó de uma pequena e atormentada alma que, com
apenas 4 anos, já estava no primeiro ano do ensino fundamental. “Ela
simplesmente não tem capacidade de ficar sentada por 4 horas pensando. É um
massacre”, me disse a moça.
Solução: Adie
ao máximo o desenvolvimento do intelecto. Seu filho vai se dar melhor no mercado de trabalho* se ele puder, até
ao menos os 6, 7 anos, se entregar à fantasia, às brincadeiras, ao seu colo e
ao ócio que é tão bom para a infância. Não precisa aprender a usar o
computador com 5, ele vai ter a vida toda pra isso. Se você deixar a escola
pros 7 anos, que sorte ele vai ter em ganhar um ano a mais para o
desenvolvimento que só se dá quando brinca. E, se ele já estiver ativando seu
intelecto com essa idade, a brincadeira perde a qualidade, a fantasia vai
perdendo espaço. E isso não tem volta lá na frente. Crianças que brincaram
muito serão mais criativas e resolvidas na fase adulta.
(PS: Vi que muita gente não
acha relevante esse negócio de já pensar, na infância, se o filho vai se dar
bem no mercado de trabalho e fico muito contente com isso. Coloquei essa
história justamente porque, infelizmente, essa é a lógica da educação hoje: preparar
para o mercado, não para a vida, que acontece a todo instante.)
Problema 3: “As crianças estão superprotegidas fisicamente”: É remédio demais, é
vacina demais, é blusa demais. Não pode subir em árvore porque cai, não pode
tomar banho de chuva porque pega pneumonia, não pode sair sem blusa porque pega
virose, não caminha nem até a padaria porque o pai prefere levar de carro. Na
escola, tem que ter câmera online para que os pais saibam exatamente o que o
filho fez e se a professora deu a comida na boquinha na hora certa. Nessa mesma
reunião de professoras, ouvi muitas delas reclamando que, mal fazia um ventinho
e já tinha mãe ligando pra que a tia da escola vestisse o casaquinho no
pequeno. Ou seja, assim matamos a capacidade de a criança sentir por si só e
aprender o que é frio e calor, o que é chuva na cabeça, e tiramos de seu
organismo a capacidade de se adaptar. Não suportamos a possibilidade de que ele
pegue uma gripe nem catapora.
Solução:
Deixe seu filho tomar uma chuvinha de vez em quando. Dê a ele a
possibilidade de sentir frio e, quando perceber o que é, volte pra casa e peça
um casaco. Mas que ele faça isso por si só ou você vai ter que passar a vida
falando: filho, levou blusa? Porque ele mesmo não vai saber quando ela é
necessária. Leve seu filho pra andar
todo os dias. “O ideal seria que as crianças caminhassem ao menos 1 hora
diariamente. Essa seria uma solução para uma série de problemas afetivos que as
crianças têm hoje. Elas não se cansam
fisicamente, não tiram do seu corpo tudo o que ele pode dar e a energia fica
toda na cabeça”, diz Luiza Lameirão.
É isso. Se dá pra fazer tudo isso sempre?
Talvez sim, pode ser. Mas tentar já é um bom começo. Bom final de semana!
Por Fabi Corrêa
Por Fabi Corrêa
Dica da colega Débora Franke
Equipe CAPSIA
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