terça-feira, 1 de abril de 2014

Dados Estupro no Brasil

Na última semana dois estudos ganharam destaque na mídias, ambos divulgados pelo IPEA (instituto de pesquisa econômica aplicada)relatando dados sobre situações de violência:
1. Tolerância social à violência contra as mulheres: AQUI

E

2. Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde (versão preliminar)  : AQUI 

Diversos dados polêmicos foram lançados, porém destacamos aqui dados apontados pelo segundo estudo por fazer referência direta a população de crianças e adolescentes puplico alvo do CAPSIA sendo portanto, uma realidade muito próxima de nosso trabalho e de nossa população. Obviamente o estudo trata da questão do abuso sexual.

Como destaque principal, diretamente relacionado a saúde mental trazemos as informações a cerca das consequências do abuso sexual:

“Conforme documentado na literatura, existem graves consequências do estupro, de curto e longo prazo, que se estendem no campo físico, psicológico e econômico. Além de lesões que a vítima pode sofrer nos órgãos genitais (principalmente nos casos envolvendo crianças), quando há o emprego de violência física, muitas vezes ocorrem também contusões e fraturas que, no limite, podem levar ao óbito da vítima. O estupro pode gerar gravidez indesejada e levar a vítima a contrair doenças sexualmente transmissíveis (DST). Em termos psicológicos, o estupro pode redundar em diversos transtornos, incluindo “depressão, fobias, ansiedade, uso de drogas ilícitas, tentativas de suicídio e síndrome do estresse pós-traumático” ( Fagundes et al, (2006).


“A partir da sanção da Lei n° 12.015, de 7 de agosto de 2009, o estupro passou a ser um crime contra a dignidade e liberdade sexual. Portanto, somente nos últimos anos o legislador reconheceu explicitamente a dignidade e a liberdade sexual como um bem jurídico protegido, em que toda pessoa humana, independentemente do seu sexo, tem o direito de exigir respeito em relação à sua vida sexual, como também tem a obrigação de respeitar as opções sexuais alheias [Maggio, 2013].”


No trabalho divulgado os autores referem terem sido analisados:

“... os condicionantes associados à probabilidade de a vítima: 1) sofrer estupros repetidos; 2) contrair DST; 3) passar por tratamento profilático contra DST; 4) fazer aborto legal; e 5) ser encaminhada pela unidade de saúde a outros órgãos públicos.”

 “A análise produzida neste estudo é baseada principalmente nos microdados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), gerido pelo Departamento de Análise de Situação de Saúde (Dasis), da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS), do Ministério da Saúde (MS).”

“Em 2011, foram notificados no Sinan 12.087 casos de estupro no Brasil, o que equivale a cerca de 23% do total registrado na polícia em 2012, conforme dados do Anuário 2013 do FBSP.”

Diante do impacto das informações coletadas por meio deste sistema, destacamos a importância de tal registro, muitas vezes esquecido ou mal utilizado pelas equipes. Não trata-se apenas de mais um papel ou burocracia, mas de um modo de retratar a realidade da população que atendemos. Se, mesmo com os sub-registros se tem dados tão chocantes, imagine se todos contribuirmos para que todos os casos sejam devidamente cadastrados!

Caracterizando a população de risco:

“Em relação ao total das notificações ocorridas em 2011, 88,5% das vítimas eram do sexo feminino, mais da metade tinha menos de 13 anos de idade. Por fim, mais de 70% dos estupros vitimizaram crianças e adolescentes. Tal dado é absolutamente alarmante, uma vez que as consequências, em termos psicológicos, para esses garotos e garotas são devastadoras, uma vez que o processo de formação da autoestima - que se dá exatamente nessa fase - estará comprometido, ocasionando inúmeras vicissitudes nos relacionamentos sociais desses indivíduos.

24,1% dos agressores das crianças são os próprios pais ou padrastos e que 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima. O indivíduo desconhecido passa a configurar paulatinamente como principal autor do estupro à medida que a idade da vítima aumenta. Na fase adulta, este responde por 60,5% dos casos. No geral, 70% dos estupros são cometidos por parentes, namorados ou amigos/conhecidos da vítima, o que indica que o principal inimigo está dentro de casa e que a violência nasce dentro dos lares.”

"sendo o agressor conhecido ou não, a ameaça e a força corporal/espancamento estão fortemente presentes e aumentam com a faixa etária da vítima. Quando o agressor era conhecido, a residência era de longe o local principal onde ocorria o estupro, independentemente da idade da vítima. Como seria de se esperar, quando o perpetrador era desconhecido, a via pública passou a assumir posição de destaque, sendo que, para o caso dos adultos, a incidência de estupro nesses locais correspondeu a 2,3 vezes aquela verificada nas
residências.”

Consequências sofridas pelas vítimas:

“as consequências sofridas pelas vítimas do estupro, em que se pode observar que as mais prevalentes são estresse pós-traumático (23,3%), transtorno de comportamento (11,4%) e gravidez (7,1%). Deve-se salientar, entretanto, que a proporção de vítimas que ficaram grávidas com consequência do estupro cresce para 15,0% quando consideramos apenas os casos em que houve penetração vaginal e a faixa etária entre 14 e 17 anos [tabela 14]. Chama a atenção, ainda, o percentual de casos ignorados para a presença de DST.”

“Verificamos que a probabilidade de a vítima sofrer estupros recorrentes é positivamente associada à relação de dominação do agressor perante a vítima. Ou seja, quanto menor for a chance de a vítima ser capaz de denunciar o agressor, maior será a probabilidade que estupro seja recorrente. Em particular, quando o agressor é familiar, a chance de recorrência é 3,47 vezes maior em relação à situação em que a vítima conhece o agressor, não sendo esse parente, cônjuge, ou namorado. Residir fora da área urbana faz com que a probabilidade de estupros recorrentes aumente 20%.”

E nós, profissionais da saúde com isso??

“Os profissionais de saúde são obrigados por lei a comunicar o Conselho Tutelar ou a Vara da Infância e da Juventude nos casos de suspeita ou confirmação de violência sexual contra menores de 18 anos. O MS instrui os médicos, após o atendimento médico, a encaminhar a vítima à delegacia para lavrar o Boletim de Ocorrência Policial ou submeter-se a exame pelos peritos do IML. Ainda segundo o MS, o laudo do IML pode ser feito de forma indireta, com base no prontuário médico.”

TODOS somos fundamentais no combate a violência sexual, seja ela contra qualquer individuo, independente de sexo ou idade.
Não se omita!!! DENUNCIE!


Os textos citados foram retirados conforme publicados do documento:
Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde (versão preliminar)  http://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/nota_tecnica/140327_notatecnicadiest11.pdf



Equipe CAPSIA

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