quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Intervenções precoces - bebês em risco de autismo

Nossa colega Débora Franke indicou-nos a leitura deste texto muito instigante:

Embora o titulo do documento refira-se a uma patologia especifica, a leitura do mesmo nos remete a um cuidado mais amplo da interação pais-bebê não apenas na prevenção do autismo, mas também de outras psicopatologias cujas raízes encontram-se nesta etapa tão precoce.

Os autores alertam para a possibilidade de detecção de sinais de sofrimento psíquico em momentos iniciais da vida, segundo os mesmos: "Muitos também desconhecem  o alcance da intervenção precoce nesses casos (autismo)e o quanto o trabalho do psicanalista, muitas vezes associado ao trabalho de outros profissionais, é capaz de mudar de forma significativa os efeitos desses riscos."


Destacamos alguns trechos do texto mas recomendamos a leitura na integra no link acima!



"A relação do bebê com os pais tem certas características importantíssimas para o seu desenvolvimento bio-psíquico-social, e é por isso que sempre que pensamos no bebê, nos debruçamos sobre as funções do pai e da mãe (ou de quem os represente para o bebê), porque sabemos que o bebê, sem os cuidados de um adulto, não sobrevive nem fisicamente nem psiquicamente. "



"... se um  bebê ou criança pequena está se ligando a objetos, vivendo em um mundo de sensações em detrimento das interações, evitando as emoções ou sucumbindo a elas, temos que pensar que  mudar [ou treinar] o comportamento, ainda que isso possa trazer atitudes momentaneamente mais aceitáveis, não é suficiente para reformular a estrutura mental em risco de enrijecimento autístico. Há que se investir maciçamente na criação de oportunidades de relação que ajudem a criança a regular e reconhecer seus estados emocionais, não por meio da pura cognição, mas exatamente por meio de experiências afetivas significativas com o outro. Esta é a tarefa da Psicanálise: buscar reconhecer os estados mentais tomando por base a observação detalhada e sintonizada do comportamento não verbal do bebê/criança e seus pais, convocando para o contato a partir do que a criança é, e ampliando o movimento da criança em direção ao contato com o outro."

"Nos bebês que apresentam riscos de desenvolver distúrbios de tipo autístico há muita dificuldade no estabelecimento das interações do bebê com os outros. Então, os parceiros – bebês e pais – como que se fecham em si mesmos, cada um em circuito fechado, ocasionando um processo diferente, em que, no lugar dessa construção comum, teremos duas construções que se confrontam."


"O papel dessa intensa interação pais/bebê é fundamental, pois é ela que organiza o corpo do bebê e seu funcionamento, seu comportamento e suas representações, ou seja, sua entrada no mundo simbólico e relacional. Por isso, a abordagem psicanalítica procura restaurar a interação pais/bebê, para recolocar em marcha o “motor relacional”, para que o bebê possa começar a se organizar, se construir e se enriquecer pela identificação e pela imitação."


"Por isso nós, psicanalistas, estamos, sobretudo, preocupados em intervir logo, antes que essas dificuldades relacionais se fixem como padrões de relação para o bebê. Por quê? Porque sabemos que nesse período o bebê possui uma maior maleabilidade em seus aspectos orgânicos e em sua constituição psíquica. (...) É essa maleabilidade que propicia que intervenções nesse momento oportuno sejam muito mais eficazes e duradouras, podendo evitar que essas dificuldades se potencializem, como bola de neve, instalando-se como quadros cujo tratamento será  mais difícil após a primeira infância." 


"Na condição de psicanalistas, ficamos alertas quando um bebê se mostra impossibilitado de exercer suas competências, tanto no contexto das interações quanto na organização de sua funcionalidade, ao longo de seu desenvolvimento físico, que lhe permita prosseguir nas etapas do crescimento neuro-sensório-motor (rolar, andar, sentar, pegar usando as mãos, olhar direcionado, atenção a sons, mastigar) até a organização dos seus ritmos de sono/vigília, fome/saciedade, brincadeiras/descanso. Pode aparecer, assim, pouco interesse na interação, comunicação e contato afetivo/lúdico, dificuldade de aceitar e apreciar o contato físico e de se aconchegar ao colo, ausência de pedido de aproximação, apatia, pobreza de troca de olhares e poucas vocalizações em resposta à convocação dos pais, dificuldade de se deixar consolar pelo adulto, com isso arranjando um jeito próprio de se consolar, tendo preferência pela manipulação de objetos. Vulnerabilidade e desarmonia também podem se manifestar no contexto de recusas alimentares, doenças somáticas de repetição, refluxos gastresofágicos, doenças respiratórias, irritabilidade excessiva chegando até ao impedimento do sono, flacidez ou outras alterações do tônus muscular. Reconhecemos nessas demonstrações do bebê que ele não está bem, e chamamos a essas dificuldades, que se expressam em maior ou menor grau, de sinais de sofrimento precoce ou indicadores de risco (risco para o desenvolvimento, e risco psíquico)."



"Nesse momento da intervenção, o psicanalista entende que o atendimento conjunto dos pais com o bebê é fundamental para a compreensão do que acontece entre eles. Durante os encontros, o trabalho do psicanalista é o de fazer a leitura dos apelos que o bebê faz, do modo pelo qual ele convoca ou evita o encontro com os pais e de ajudar aos pais a dar novos sentidos à movimentação do bebê. É a isso que chamamos de “leitura das situações relacionais” dos pais com o bebê, que englobam tanto a movimentação do bebê na direção de seus pais quanto a movimentação dos pais na direção do bebê que, ao se mostrarem durante as sessões, serão nomeadas pelo psicanalista."



Equipe CAPSIA

Indicação: Débora Franke - psicóloga CAPSIA

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